Stonehenge
COMO FOI CONSTRUÍDO O STONEHENGE
Texto de FAY, Stephen. Revista Seleções. Novembro
1997.
Os maciços arcos de pedra da Planície de Salisbury
aguardam o nascer do sol como vem fazendo, dia após dia, há 5 mil anos.
Erguem-se em silêncio vigilante, a cor escura em contraste com o céu cinzento.
Stonehenge pode ser a maior maravilha do mundo pré-histórico. Com certeza, é um de seus maiores
mistérios. O círculo foi deliberadamente alinhado com o nascer do sol do
solstício de verão, o amanhecer do dia mais longo do ano. Como poderiam os
homens primitivos ter colocado aqueles gigantescos blocos de pedra, pesando até
50 toneladas cada um, em suas atuais posições? E por que fizeram isso?
Na Idade Média, o monumento de Stonehenge era
explicado pelo poder da magia: Merlin, mago da corte do Rei Arthur, invocara as
forças das enormes pedras da Irlanda. No século 19, as pessoas estavam presas à
ideia dos druidas, sem atentar para o fato de que aqueles antigos sacerdotes
celtas faziam os cultos em bosques de carvalhos sagrados, e não em templos de
pedra. Sacerdotes barbados em vestimentas brancas celebrando o solstício de
verão em Stonehenge constituem sua imagem mais duradoura.
O astrônomo Sir Fred Hoyle declarou que Stonehenge
é um computador pré-histórico, gramado para prever os eclipses do sol e da lua.
Ninguém sabe exatamente o que é Stonehenge. No
entanto, hoje temos conhecimento de quando foi construído e como. Recente
estudo feito pela Associação Arqueológica de Wessex resolve as discussões sobre
a idade de Stonehenge. Tudo começou logo após o ano 3000 a.C., numa área
circular delimitada por pequena encosta com grande fosso externo. “No ano 2600
a.C., enormes pedras retangulares foram trazidas das Montanhas Preseli,
situadas a cerca de 217 quilômetros dali”, diz Andrew Lawson, diretor da
Associação.
O anel externo e a arcada interna foram feitos de
blocos de arenito provenientes das Planícies MarIborough, situadas 40
quilômetros ao norte. Os maiores dolmens da arcada interna, chamados de
trilithons, são constituídos por dois pilares denominados megálitos e uma pedra
colocada sobre o topo. Os megálitos têm aproximadamente 7 metros de altura e
pesam até 50 toneladas. Acredita-se que foram construídos por volta do ano 2400
a.C.
Quando prepararam as pedras, os criadores de
Stonehenge fizeram pequena elevação no meio das colunas, técnica que na Grécia,
1500 anos mais tarde, seria chamada de êntase. Contrariando o efeito de
distorção da paisagem, a êntase faz a aresta de uma coluna parecer
perfeitamente reta.
Entretanto, a descoberta mais intrigante da
Associação é que o tempo de construção de Stonehenge talvez tenha sido bem
menor do que se imaginava: “O monumento poderia ser construído em uma geração,
com potencial humano e gerenciamento ágil.”.
Isso é incrível. O transporte e a edificação de 40
blocos de rocha, com outro bloco de 10 toneladas colocado sobre eles, é obra
que mesmo hoje seria de tirar o ânimo de qualquer um. Que força bruta foi
necessária para colocar aquelas pedras na posição, sem guindastes ou roldanas?
Há três versões, num campo não muito distante de
Stonehenge, certo grupo de entusiastas liderado pelo engenheiro Mark Whitby e
pelo arqueólogo Julian Richards mostrou como os arcos podem ter sido
construídos.
Whitby coordenou uma operação onde réplicas das
pedras – duas colunas de 45 toneladas e uma viga transversal de 10 toneladas,
feitas de concreto – foram puxadas sobre trilhos de madeira besuntados com
sebo. Uma versão do sistema em que os grandes navios, com as quilhas
lubrificadas, são lançados ao mar sobre trilhos. Os grandes blocos de pedra
foram puxados colina acima por 130 soldados, bombeiros e estudantes usando
quase 150 metros de corda.
A força bruta, no entanto, não foi suficiente para
erguer as pedras. Para alcançar seu objetivo, Whitby teve de pensar como os
construtores originais. “Esses rapazes da Idade da Pedra eram engenhosos”,
admite Whitby. Uma dica importante foi o formato do buraco onde fica a coluna
maior. Ele era vertical, com um dos lados fortemente inclinado. Whitby
construiu uma rampa perto do buraco e mandou que puxassem a enorme pedra sobre
ela, até que a terça parte da pedra se projetasse sobre o buraco. Pesados
fragmentos de rocha foram colocados sobre o bloco de pedra e empurrados para
sua extremidade. Momentos depois, o peso desses fragmentos fez o imenso bloco
se inclinar e cair dentro do buraco abaixo dele.
Uma vez erguido o segundo bloco, a viga transversal
foi arrastada sobre a rampa mais íngreme. Os três blocos se adaptaram de
maneira impecável e formaram a perfeita arcada do século 20. Whitby acredita
ter solucionado o problema. “Com 140 pessoas, eu poderia construir Stonehenge
em menos de 20 anos.”
Esquema de construção do Stonehenge.
LOCALIZAÇÃO DO STONEHENGE
O nome Stonehenge vem das palavras do inglês
arcaico “stone” = pedra e “henge” = eixo. O lugar é talvez o mais famoso do
Reino Unido e se trata de um alinhamento megálito do período Neolítico,
localizado na planície de Salisbury, próximo a Amesbury, no condado de
Wiltshire, no Sul da Inglaterra.
No livro From Stonehenge to Modern Cosmology (“De
Stonehenge à Cosmologia Moderna”, inédito no Brasil), o astrônomo inglês Fred
Hoyle, um dos maiores especialistas do século XX em teorias sobre a origem do universo,
defendeu a tese de que o monumento foi erguido como uma espécie de computador
capaz de prever eclipses e outros fenômenos celestiais, concluindo que “o
conhecimento astronômico desse povo deve ter nascido de muitos séculos de
observação”. Outros especialistas enxergam as ruínas como vestígios de um
grande templo religioso – e é bem provável que as duas teorias sejam
complementares.
Isso porque a construção foi feita em três fases
distintas, com aproximadamente 2 mil anos de distância entre elas, além de
haver indícios de que o enigmático círculo de pedras passou por longos períodos
de abandono – dois dos aspectos mais intrigantes de Stonehenge. Pode ser,
portanto, que os homens que iniciaram o monumento tivessem em mente um projeto
– um calendário astronômico, por exemplo -, que acabou modificado pelas
gerações seguintes. Sem encontrar interpretações astronômicas para as
construções posteriores, Hoyle levanta a hipótese de que houve um declínio
intelectual entre as primeiras e as últimas civilizações de construtores,
talvez pela invasão das ilhas britânicas por outros povos. A falta de registros
escritos e o longo tempo que Stonehenge ficou esquecido tornam mais difícil
decifrá-lo.
No século XX, iniciou-se uma batalha para preservar
o que restou de Stonehenge, mas até isso criou polêmica – como algumas pedras
tombadas foram reerguidas e estabilizadas, a interferência gerou acusações de
que as atuais formações seriam falsas. Mas os restauradores garantem que todo
seu trabalho respeitou a posição original das pedras.
PERIÓDOS DE CONSTRUÇÃO
A estrutura do Stonehenge é composta por círculos
concêntricos de pedras que chegam a ter 5 metros de altura e a pesar quase 50
toneladas, onde se identificam três distintos períodos construtivos.
O chamado Período I (c. 3100 a.C.), quando o
monumento não passava de uma simples vala circular com 97,54 metros de
diâmetro, dispondo de uma única entrada. Internamente erguia-se um banco de
pedras e um santuário de madeira. Cinquenta e seis furos externos, chamados de
buracos de Aubrey, ao seu perímetro continham restos humanos cremados. O
círculo estava alinhado com o pôr do Sol do último dia do Inverno e com as
fases da Lua.
Durante o Período II (c. 2150 a.C.) deu-se a
realocação do santuário de madeira, a construção de dois círculos de pedras
azuis (coloridas com um matiz azulado), o alargamento da entrada, a construção
de uma Avenida de entrada marcada por valas paralelas alinhadas com o Sol
nascente do primeiro dia do Verão, e a construção do círculo externo, com 35 pedras
que pesavam toneladas. As altas pedras azuis, que pesam quatro toneladas, foram
transportadas das montanhas de Preseli, no sudoeste de Gales a cerca de 24
quilômetros ao Norte.
Pensa-se que estas pedras, algumas pesando quatro
toneladas cada foram arrastadas em rolos e trenós para as cabeceiras em Milford
Haven e depois carregadas em jangadas. Elas foram levadas pela água ao longo da
costa sul de Gales e até os rios Avon e Frome, antes de serem arrastadas por
terra novamente para perto de Warminster, em Wiltshire. A etapa final da viagem
foi principalmente por água, rio abaixo Wylye de Salisbury, em seguida, o
Salisbury Avon para Amesbury oeste.
Esta jornada surpreendente cobre quase 386
quilômetros. Uma vez no local, estas pedras foram criadas no centro para formar
um duplo círculo incompleto.
No Período III (c. 2075 a.C.), as pedras azuis
foram derrubadas e as pedras de grandes dimensões (megálitos) – ainda no local
– foram erguidas. Estas pedras, medindo em média 5,49 metros de altura e
pesando cerca de 25 toneladas cada, foram transportadas do Norte por 19
quilômetros. O transporte por água teria sido impossível, as pedras só poderiam
ter sido movidas usando trenós e cordas. Cálculos modernos mostram que teria
levado 500 homens usando cordas de couro para puxar uma pedra, com um extra de
100 homens necessários para lançar os enormes rolos na frente do trenó.
Entre 1500 a.C. e 1100 a.C., aproximadamente
sessenta das pedras azuis foram restauradas e erguidas em um círculo interno,
com outras dezenove, colocadas em forma ferradura, também dentro do círculo.
TRABALHO PESADO
Rochas de 50 toneladas foram arrastadas por 30 km.
1 – As pedras mais pesadas (50 toneladas) vieram de
regiões até 30 quilômetros ao norte. Blocos menores (5 toneladas) viajaram
quase 400 quilômetros. Parte do trajeto era vencido pelo mar e pelos rios, com
as pedras amarradas em rústicas canoas. Em terra firme, elas deslizavam sobre
uma espécie de trenó de troncos puxado por vários homens.
2 – Um buraco era cavado no ponto onde o bloco
seria posicionado. Com o apoio de toras de madeira e uma alavanca, ele era
inclinado até se encaixar ali. Depois, o bloco era erguido com cordas e, para
completar, preenchia-se o buraco com fragmentos de rocha.
3 – Para erguer as vigas dos chamados trilithons –
formações com dois pilares sustentando um terceiro bloco – era preciso montar
plataformas de madeira. A viga era erguida com uma alavanca, permitindo o
encaixe de novos andares.
4 – A plataforma crescia até chegar ao topo dos
pilares. Com o sistema de alavancas reforçado com cordas, por causa da grande
altura, a viga era deslocada até se apoiar sobre os pilares, nos quais havia
pontos de encaixe.
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